terça-feira, julho 15, 2008

Registrando mais um grito abafado.



Depois de tanto tempo, ela tentou sonhar de novo e como sempre aconteceu, há alguma coisa doloridamente séria tirando a essa leveza, algo que a faz ver a realidade e tirou mais uma vez o corpo das ilusões.
Há alguns anos, tudo que ela queria era a chance de mostrar o quanto havia mudado, o quanto estava disposta a arriscar. Mas a oportunidade não veio. E ela desistiu.

Lembrou-se então de uma conversa que teve há alguns dias. Nela, o amigo contava algo sobre a derrota que reconhecia num determinado momento da sua vida e sobre a falta de oportunidade que teve de recomeçar. Infelizmente agora ela entendia o que a sensibilizara tanto nesse episódio: Viu ali a si mesma. "Essa derrota tb é minha!", pensou instintivamente. Agora entendia o porquê.

Tentou então localizar na sua memória recente quem poderia representar essa derrota para si, da mesma maneira que o amigo a via personalizada na Menina do Fogo. E a resposta veio rápido: Luiza! Sim, é Luiza que a faz sentir a derrota daquela época. A passional e melancólica Luiza! Tudo que se imaginou viver, tudo que escreveu, tudo que ansiou, tudo o que desejou.
Luiza com seus cabelos curtos, sua nuca a mostra, sua crueza verdadeira. Ela se mostrou crua e sem retoques para o mundo esperando que alguém lhe enxergasse a beleza. Confiou que alguém veria! Desafiou sua própria insegurança e se mostrou crua, nua e apaixonada na esperança que alguém sentisse o cheiro do sexo e o aroma da alma. Mostrava seu corpo esguio e delicado, em linhas duras, retas e negras na esperança de que alguém lhe percebesse o contraste.
Muitos sentiram o cheiro da fêmea. Mas ignoraram completamente a mulher. E ela se fechou novamente.

E foi refletindo sobre isso, que melancolicamente percebeu os olhos que a teriam visto, que a teriam feito ter sentido naquele tempo. Os olhos que teriam vindo na hora certa, e que, por algum motivo, não vieram. Que a olham agora, mas atravez de um canal improvável: que sentem o que ela foi, vendo o que ela se tornou. Com um grande abismo no meio.

Veio-lhe à cabeça a imagem de uma pena emplumada que cai do céu. Uma branca, leve e quase imaterial como a sua propria alma que delicadamente desce os céus, sinuosa, hesitante e pousa no colo da menina-vestida-de-mulher, aquietando um pouco a sua revolta, mas lembrando-a de que aquele pássaro já se foi há muito. Que não está mais naquele pedaço de céu.

E guardando a pena dentro do livro da sua história, pensa que não se considera uma pessoa derrotista, que ainda acredita no sentido que as coisas devem ter. Tiveram até hoje, não?

Um comentário:

Unknown disse...

Derrota?
Só a derrota dos olhos que não sabem ver...
talvez esta seja a hora.

"omini festinatio ex parte diabli est"